terça-feira, 15 de dezembro de 2009

MAIS DO MELHOR DE 2009


Segundo disco da seleção The Best of 2009. Mais música para fazer qualquer coisa: viajar nas férias, casar, dançar na balada ou sozinho em casa, ouvir na praia, pensar, cozinhar para os amigos, namorar, andar, trabalhar, deixar rolar no estúdio, para chegar em casa, ouvir no carro, lembrar. guardar ou esquecer.

1 - Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band - EASY STARS ALL-STARS


Mais um petardo do duo de produtores Michael G. (Michael Goldwasser) e Ticklah (Victor Axelrod) que formam a "cooperativa" Easy Stars All-Stars. Os dois já fizeram Radiodread, a partir de Ok Computer, e Dub Side of The Moon, a versão reggae-dub para Dark Side of The Moon, do Pink Floyd. A fórmula é a mesma: pegar um disco clássico, reunir a nata do reggae para cantar e deitar o vasto conhecimento das técnicas de estúdio que cercam a boa música jamaicana. Esse ano, foi Sgt. Peppers e o resultado é Easy Star's Lonely Hearts Club Band, de onde a faixa foi extraída. Participam do disco nomes como Luciano, Frankie Paul, Mighty Diamonds, Max Romeo, Sugar Minott e Steel Pulse, entre outros. Não precisa dizer mais.

2 - Sunday Bloody Sunday - BA CISSOKO

Versão heterodoxa e sensacional do U2, presente em In The Name Of Love - Africa Celebrates U2, disco para arrecadar fundos para a ONG The Global Fund, que trabalha contra a AIDS, a tuberculose e a malária no continente africano. Ba Cissoko é um grupo da Guiné, que funde a tradição da música mandinga com rock, pop, electronica e jazz contemporâneos. A faixa é levada pela kora de Cissoko, instrumento característico do pop mandingo, que refaz o riff antológico de The Edge. Boa oportunidade para conhecer a avalanche de boas idéias que vem do pop africano. Ba Cissoko ainda lançou esse ano o excepcional Séno. A música dos griots ainda está entre o que de melhor se produz na África. A escolha também é uma forma de prestar tributo a outro grande disco de 2009: No Line On The Horizon, do U2.

3 - Spencer The Rover - CARA DILLON


Magnífica faixa de Hill of Thieves, quarto disco da irlandesa Cara Dillon. Em meio a tantos embustes que vêm com o rótulo de neo-folk, é sempre bom ouvir a música folk de verdade, principalmente com a voz, a letra e a delicadeza de Cara.

4 - White Socks/Flip Flops - SUPER FURRY ANIMALS

Os galeses do Super Furry Animals recuperaram a velha forma em Dark Eyes/Light Years, perdida desde o fenomenal Rings Around The World, de 2001, ainda que Phantom Power (2003) não possa ser considerado um disco ruim. Mas aqui eles se superam, fazem um disco impecável e provam que Gruff Rhys, o dono da banda, é muito melhor com os Super Furry do que em sua carreira-solo. Permanece a mística: vocalistas, músicos e compositores nem sempre são bons sozinhos. Clássico instantâneo, com referências a Beach Boys, Beatles, Talking Heads, glam, funk e ao próprio trabalho da banda. Os Furry conseguiram ter uma cara própria no concorrido cenário do rock/pop inglês e apareceram com uma música nova (e muito boa) em pleno britpop.

5 - So Light Is Her Footfall - AIR

Não há quase nada que se possa dizer sobre o Air. A banda deve ser assunto em outras esferas, talvez no mundo acadêmico ou em algum quarto em que garotos e garotas descobrem a música eletrônica de qualidade, teclados de segunda mão, computadores e as muitas possibilidades de misturar estilos e fazer música. Não é fácil, porque quase ninguém consegue por talento nisso, apesar das várias opções no MySpace. O Air é único e fez de Love 2 um disco perfeito, com referências que vão do pop dos 60, passam pelo rock progressivo e vão até o começo da dance music liquefeita que nasce depois da disco. E vão adiante, por isso é bom de ouvir.

6 - Let There Be Music - PREFAB SPROUT

A faixa pode parecer datada e é. Imposssível não lembrar da virada dos 80 para os 90 ouvindo a música que abre Let's Change The World With Music, que marca a volta e, provavelmente, o fim de uma das melhores bandas dos anos 80 e início dos 90. Paddy McAllon, o gênio por trás do Prefab Sprout, hoje fazendeiro, pai de duas filhas, sujeito recluso, que mantém um estúdio analógico na sua casa, resolveu lançar as músicas que fez durante as gravações de Andromeda Heights e The Gunman and Other Stories, os últimos (e ótimos) discos da banda. O material seria para um novo disco que saiu em 2009, 18 anos depois de gravado. Não são sobras. É música nova, de uma das poucas bandas que não parecem datadas da safra 80/90 (ironia), quando quase todos tentavam parecer diferentes. O segredo de Paddy McAllon e do Prefab Sprout parece ser o mesmo de Brian Wilson, Beatles e Burt Bacharach. Música insondável e para sempre.

7 - We Share The Same Skies - THE CRIBS

Três irmãos ingleses com o mais do que luxuoso auxílio de Johnny Marr, o lendário guitarrista dos Smiths, que dava coerência às composições de Morrissey. Faixa de Ignore The Ignorant, quarto disco da banda, que fez dos Cribs a revelação de 2009. O velho e bom rock inglês revigorado. Banda que merece atenção e obscureceu lançamentos de peso - e decepcionantes - como Tonight, do Franz Ferdinand, e Humbug, dos Arctic Monkeys. Em meio a desacertos e desatinos, outro que acertou a mão foi Pete Doherty (quem diria) com o surpreendente Grace/Wastelands.


8 - Coming Down Again - THE ROLLING STONES

Outro relançamento, que aproveita os remasters de vários discos da banda lançados esse ano. Faixa de Goats Head Soup, gravado na Jamaica e lançado em 73. É o meu disco favorito dos Stones e ouvi-lo remasterizado só ampliou uma experiência que já dura mais de 30 anos. Ele veio depois de Exile On Main St. e antes de It's Only Rock 'N Roll, clássicos incontestáveis. Mas digo que Goats Head Soup é melhor do que os dois juntos e tão bom quanto Sticky Fingers, de 71, para ficar nos anos 70. Brigas pessoais e com a imprensa, detenções, excessos, drogas, exaustão, a banda à deriva e mais drogas. O resultado é um disco chapado de rock e baladas amargas como essa faixa. Em meio ao caos, a guitarra reluzente de Mick Taylor leva os Stones a lugares onde nunca tinham chegado - e não chegariam nos discos que vieram depois.


9 - Down To The Wire - SON VOLT


Uma ótima banda repartida em duas, ambas presentes entre os melhores lançamentos de 2009. O Uncle Tupelo tinha Jeff Tweedy e Jay Farrar, compositores, cantores, músicos talentosos e encrenqueiros. Depois de Anodyne, o último disco, os caras brigaram e formaram cada um a sua própria banda. Tweedy fez o Wilco e Farrar o Son Volt. O resto é história. Faixa de American Central Dust, sexto disco do Son Volt, que continua a inovar dentro do que se convencionou chamar de country alternativo ou alt-country, com a habilidade que Farrar sempre demonstrou para criar boas canções. Em 2009, Farrar ainda fez a trilha para um documentário imperdível sobre o melhor livro de Jack Kerouac, Big Sur (62), junto com Ben Gibbard do Death Cab For Cutie. O trailer está aí.

10 - Bring It Home - NITIN SAWHNEY

Compositor, produtor, ator, escritor e roteirista londrino, Sawhney tem suas raízes na Índia, que continua a influenciar grande parte da sua música com seus diversos estilos. Músico criativo e requintado, deixa de lado os apelos pop de ritmos festivos como a bhangra e aproveita mais a atmosfera contemplativa de outras manifestações da música indiana. Isso feito com fusões admiráveis que incluem jazz, raga, ghazal, beats, lounge e trip hop. A faixa é de London Undersound, lançado no ano passado na Inglaterra e em 2009 nos Estados Unidos, junto com um disco de remixes do mesmo álbum. A cantora e compositora inglesa Imogen Heap, conhecida das trilhas de diversos seriados da TV, canta na faixa. Até Paul McCartney faz o vocal em My Soul. Os catalões do Ojos de Brujo também estão no disco. Preste atenção.

11 - Addis Black Widow - MULATU ASTATKE + THE HELIOCENTRICS

O disco mais inesperado do ano, reunindo um dos fundadores do ethio-jazz com o inclassificável combo inglês. A iniciativa de unir os dois foi de um selo independente dos mais interessantes, o Strut, responsável pela série Inspiration Information - esse é o Volume 3, de onde saiu a faixa. Astatke nasceu em 43, na Etiópia, toca piano, clarinete e vibrafone. Na virada dos 60 para os 70, foi um dos principais nomes da cena musical da capital Addis, fazendo uma música que ainda hoje é nova e estranha. O jazz encontra as escalas da música amárica, o funk e os metais de James Brown. Os Heliocentrics dão uma ambientação ainda mais climática e explosiva para a música de Mulatu, que ganha toques de vanguarda, free jazz e trip hop. No filme Flores Partidas, de Jim Jarmusch, aparecem quatro temas do cara. Quem quiser saber mais sobre o ethio-jazz e o sensacional pop etíope dos 70, procure os discos da série Éthiopiques. Aqui eles tocam em Londres.

12 - Wilco (The Song) - WILCO

Depois de passar por tudo, Jeff Tweedy apaziguou o espírito e o som da sua banda, que desde A.M., primeiro disco do Wilco (95), passou pelo alt-country, o pop, o rock indie, o art-rock, a vanguarda e o progressivo, para chegar a Wilco (The Album), que traz todos essas vertentes perfeitamente equilibradas. Não é por outra razão que a faixa de abertura do disco é essa Wilco (The Song). É uma reafirmação - e um recomeço grandemente promissor da melhor banda de 95 para cá.

13 - Nothing To Hide - Yo La Tengo



Banda veterana da cena indie norte-americana, contemporânea do R.E.M., do Sonic Youth e anterior à explosão do Nirvana. É o tipo de som que você ama ou odeia, mas no caso dos caras ficou difícil não gostar. Ainda estão lá as alternâncias entre ruído e silêncio, as viagens noise e o estigma de guitar band que definem boa parte da estética indie. Em alguns momentos, Yo La Tengo, Sonic Youth, Pixies, podem ser muito chatos, mas nesse Popular Songs a banda é quase perfeita só por dar mais atenção à melodia. Digo quase porque senão eles não seriam mais indies, se é que essa discussão ainda faz sentido hoje em dia. Parece que só os Pixies não tiveram tempo de superar a sua imensa chatice.

14 - River Of Tears - MADELEINE PEYROUX

Se existia alguma dúvida sobre a autenticidade, não a qualidade de Madeleine Peyroux, ela se esvai por completo no seu quarto disco, Bare Bones. É óbvio que ela lembrava Billie Holiday, principalmente quando cantava jazz de outros compositores, ainda que tentasse dissimular a semelhança cantando Leonard Cohen, Bob Dylan, Joni Mitchell e Serge Gainsbourg. Nesse quinto disco, é ela que compõe e faz o seu melhor disco, com a ajuda de Walter Brecker (Steely Dan), entre outros. Mudou o produtor. O veterano Larry Klein, que já foi casado com Joni Mitchell e produziu vários discos dela, bem que tentou mas, felizmente, não conseguiu fazer Madeleine soar como ela. São muito diferentes. Ao mesmo tempo, Peyroux aproveitou para ampliar a sua enorme capacidade de cantar e se expressar, independente de gênero ou autor. Nesse disco, foi mais ela, como Joni Mitchell em cada um de seus discos.

15 - Eat Your Greens - LLOYD COLE


A música não é nova, mas foi relançada esse ano na caixa Cleaning Out The Ashtrays. É o que todo fã e colecionador quer: quatro CDs só com raridades, singles, b-sides, covers, faixas nunca lançadas, além de encarte detalhado com quatro ensaios do próprio Cole. Os discos cobrem o período de 89 a 2006, a carreira-solo depois dos Commotions. Chega em boa hora e prova que Lloyd Cole é o melhor cantor-compositor de sua geração. Sensibilidade pop, literatura e cinema para poucos.

16 - French Navy - CAMERA OBSCURA

Faixa de abertura de My Maudlin Career, quarto disco dos escoceses liderados pela cantora e compositora Tracyanne Campbell. Indie pop nostálgico (e delicioso) com referências claras aos girl groups dos 60.

17 - Bruised Ghosts - AMY MILAN

O Canadá é o país dos cantores-compositores, talvez por conta das reflexões que imensas paisagens nevadas, desoladas, podem provocar. Amy Milan confirma a lenda em seu segundo disco, Masters of the Burial, que abre com essa belíssima faixa indie folk, com destaque para um inusitado solo de trumpete.

18 - Wet Sand - WHITE DENIM

Faixa que era para ter entrado no primeiro EP da banda, Let's Talk About It, de 2007, mas que só saiu em setembro desse ano como single. O White Denim é um power trio de Austin (Texas) - e, contrariando a cena alt-country local, fazem um som rápido, sujo, direto e muito bom. Pós-punk alternativo como se os Stooges tivessem surgido há dois anos.

19 - Paradise Cove - PETE YORN

Cantor-compositor de New Jersey, lançou dois discos esse ano: Back & Fourth, de onde veio a faixa, e Break Up, onde canta com ninguém menos do que Scarlett Johannson. No primeiro caso, prevalecem as boas canções de Yorn, que remetem um pouco ao folk-rock californiano do final dos 60 e início dos 70. Em Break Up, mesmo com o talento dele, sobressai a beleza de Scarlett. Os dois estão aqui.











2 comentários:

  1. Vim comentar só depois de ouvir os dois cds. Como todo ano tem coisas que eu gostei, coisas que eu estranhei e coisas que eu amei. Também como todo ano, o balanço final é muito bom!

    Todo ano no The Best Of descubro alguma banda/artista de quem viro fã. Esse ano me apaixonei por Oi Va Voi.

    Parabéns pela seleção e pelo blog novo que tá bem bonito!

    Beijo, Papi.

    ResponderExcluir
  2. Obrigado, filha. OI VA VOI é bom demais desde o primeiro disco, que você também tem. Tenho certeza que depois você vai descobrir outras coisas tão boas quanto e pode não ser agora. Na verdade, os dois CDs são caudalosos e cheios de surpresas. Quando descobrir outras pérolas,fique à vontade e escreva aqui. Ouvir e ouvir, porque a música pode pegar a gente em momentos diferentes em questão de segundos.

    Beijo, Filha.

    ResponderExcluir